domingo, 28 de outubro de 2007

Educação e diversidade em cores, buzinas e movimento

Você acorda. Toma um banho e um café para despertar. Dá uma rápida lida no jornal ou assiste ao noticiário na TV e sai para começar seu dia. No caminho, a pressa, o trânsito ou as horas que não se deixa desperdiçar, muitas vezes não lhe permite observar detalhes, nem sempre pequenos, como, por exemplo, do quanto diferente somos uns dos outros.

São formas de pensar, de vestir, de agir. São jeitos, cores, culturas, habilidades ou limitações. Características que fazem de cada um humano, único. Daí, ainda no caminho para a escola ou para o trabalho, o sinal coloca-se vermelho e uma fila de carros e ônibus, todos lotados, pára parecendo esperar a continuidade de tudo.

Você pensa rápido. Observa a diversidade, mas tudo muito vagamente, afinal, o sinal vai abrir e as coisas voltarão a seu movimento. E existe pressa. Muita! O sinal põe-se verde novamente, mas, por algum motivo que você ainda não sabe qual é, surpreendentemente, carros e ônibus continuam parados.

“Puxa vida! Me atrasarei!”, você pode imaginar. Mas, não encontrando outra saída, põe-se novamente naquele pensar interrompido por um verde de sinal. “...somos todos tão diferentes...”. Mas será que você pensa, por exemplo, sobre o seu papel e o de instituições diante de toda essa diferença?

Somos desde pequenos educados, por nossas famílias ou mesmo pela escola, a repetir padrões que, vezes por outra, parecem esquecer as diferenças existentes entre as pessoas e fazer com que nós acreditemos em uma igualdade inexistente, em um padrão. Assim, quando diante de situações que fogem destes modelos pré-fabricados, agimos conforme aquilo que, lamentavelmente, nos fora ensinado: um simples “tolerar”, mas nunca o conviver, de fato, com tamanha diversidade.

É ainda reflexo da educação que recebemos a não existência da diversidade nas concepções de “habilidades” ou “limitações”. Não somos levados a perceber, por exemplo, que por sermos em nossas individualidades tão diferentes uns dos outros, o que pode ser uma limitação para mim pode perfeitamente caracterizar a sua maior habilidade.

É nesse sentido que a Escola se faz importante com o seu papel de educar, mas um educar fundamentado em novos conceitos, um educar que valorize a diversidade e possua características como a interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, em outras palavras, um educar verdadeiramente inclusivo. Sinal verde... sinal amarelo... são tantas outras cores além daquelas três que você já nem percebe mais as cores do sinal...

Educar de forma inclusiva significa reconhecer em toda criança, a capacidade de aprender. No Brasil, organizações públicas e privadas têm trabalhado com a Educação Inclusiva como um processo que amplia a participação de todos os estudantes em estabelecimentos de ensino.

Atitudes assim parecem soar como algumas tímidas buzinas que lhe levam a despertar... “Quem buzina?” Você se pergunta... e ao mesmo tempo começa a perceber, por exemplo, que as diferenças estão por toda parte: entre os carros e ônibus que começam lentamente a entrar em movimento ou entre as pessoas que caminham para algum lugar que nem sempre se sabe qual é. Mas, mesmo estando em tantos lugares, elas não são respeitadas.

Nesse sentido, pensar em um modelo de educação que compreenda a diferença como característica fundamental para que cada um de nós sejamos considerados seres humanos faz de nós mais receptivos e livres para a construção de conhecimentos. Fazer do aprender a conviver e, principalmente a respeitar o outro, um exercício diário possibilita a correção de uma situação real de discriminação, além de ser um importante passo e para a construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

Buzinas! Buzinas! E mais buzinas! Então, depois de muito pensar... você olha para fora da janela e avista uma moça que veste uma camiseta com uma charge do educador Paulo Freire e ao lado dela os seguintes dizeres: “Se educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.” Você pensa novamente. Já tem gente fazendo, apostando, trabalhando. E você, o que vai fazer? O sinal abriu novamente e desta vez carros e ônibus correm em busca do tempo perdido. Vamos nessa?

3 comentários:

Lívia Alcântara disse...

Lembra q falei q gosto de narrativas rápidas?! Gostei dos seus textos...esse tem a sonoridade do marchar de soldados...vai entrando na cabeça no mesmo rítimo...hihihihi

gato de Schrödinger disse...

Surpreendo-me novamente com seus textos, srta. Chaves. Meus bigodes até se arrepiaram ao ler desfecho tão poético.

Tantas reflexões perpassaram minha mente enquanto lia as suas próprias reflexões que nem sei por onde começar. Antes de mais nada, gostaria de ressaltar a quantidade de vezes que estar dentro de um ônibus, esteja ele vazio ou lotado, gerou constatações reveladoras e oportunas, sobre mim mesmo ou sobre aqueles que me cercam.

Em relação à educação inclusiva, concordo inteiramente com vossa mercê. A Direita deste nosso farsante país insiste em dizer que nossa educação está se democratizando rapidamente e crescendo exponencialmente, enquanto a realidade mostra situações notavelmente contrárias à cartilha governista, seja com políticas de cotas que só agravam o adormecido problema racial brasileiro, seja com determinações ministeriais que , pouco à pouco, vão minando o papel construtor de caráter e princípios consagrado à Educação e tornando os alunos máquinas de responder questões de vestibulares.

Quanto às diferenças... Que poderia eu dizer? Há muito que me deparei na variedade de tipos e pessoas no mundo. Saber que, enquanto comento este seu escrito, há milhões, bilhões de outras vivendo seguindo caminhos que eu nem mesmo ouso imaginar... Tamanha diversidade tanto me fascina quanto me assusta. (Em caráter de curiosidade: sabia que seis bilhões de segundo demoram 32 anos pra passarem? Quer dizer, se você pudesse olhar o rosto de cada pessoa que habita nosso planeta, por apenas um segundo, em 32 anos você teria visto apenas 1 bilhão destas pessoas. Ainda faltariam outras 5 bilhões.)

E eu que ainda hoje pela manhã, lendo um fantástico livro, me deparei com uma afirmação que me deixou refletindo, espantado. Dizia: todos os homens são o mesmo homem. E não pude deixar de fazer esta reflexão: que todos nós, todos os seres humanos, somos como se fôssemos a mesma essência, o mesmo "indivíduo", diferentes uns dos outros unicamente pelas diferentes experências ao qual fomos e somos expostos desde que nascemos. E, por instantes, imaginei-me sendo todos, John Lennon, Hitler, Neruda, os Nardoni, Cid Moreira, meu pai, minha mãe... Uma loucura.

Beijos, moça. Até a próxima reflexão.

gato de Schrödinger disse...

correção: na verdade, são UM bilhão de segundos que passam em 32 anos. Seis bilhões, lógico, seria seis vezes isso.

 
Copyright 2009 zine colorido
Convert By NewBloggerTemplates Wordpress by Wpthemesfree